Inês Matos Andrade | 2021-03-25

Memória Descritiva: Projeto TASA

Onde artesãos e designers unem o passado ao futuro

O quê? OS CANDEEIROS ACHIGÃ, compostos por três elementos que dão vida ao pé direito da Casa Artes e Ofícios, foi fruto de uma colaboração entre o Projeto TASA e a Herdade da Malhadinha Nova. O desafio foi lançado por Rita Soares, em 2019, a esta iniciativa algarvia que coloca designers a artesãos numa relação criativa, desenvolvendo peças contemporâneas através de ofícios ancestrais.

Quem? O designer Hugo da Silva, com trabalho desenvolvido internacionalmente em design de produto e interiores, aplica uma abordagem criativa que combina materiais naturais, cores, texturas e formas com uma conjugação autêntica de referências culturais e memórias coletivas. Em colaboração com artesãos nos ofícios da Cadeiraria e Olaria, desenvolveram esta peça única e exclusiva.

Como? A intenção foi trazer para dentro do espaço o caráter distintivo do património ligado às artes e ofícios locais e ao próprio ecossistema da Ribeira de Terges, através da representação deste peixe de águas fluviais, o achigã. Numa abordagem contemporânea, o resultado confere atualidade a este legado e presta homenagem à alma deste lugar. A madeira e o buinho da ribeira (uma planta endógena), remetem para o ofício dos cadeireiros que produziam artesanalmente as cadeiras e bancos utilizados nas casas rurais.

Falámos com Graça Palma, mentora do Projeto TASA, para perceber um bocadinho mais sobre o trabalho que desenvolvem.

Como surgiu o Projeto TASA?

Graça Palma: O Projeto TASA nasceu em 2010 pela iniciativa da CCDR Algarve que contratou uma equipa de designers para conceber uma coleção de produtos, um livro, um site e outras ações com a missão de tornar o artesanato uma profissão de futuro. Esta perspetiva de futuro, enquanto continuidade, contemporaneidade, sustentabilidade, inovação e valorização das artes tradicionais, esteve sempre no cerne do projeto e no centro da sua ação. A marca foi criada entre 2010-2011 assim como uma coleção de 27 produtos, envolvendo uma rede de 11 artesãos.  Posteriormente, e desde 2013, a Proactivetur, uma empresa a operar na área do Turismo Responsável, como grande ligação ao território e aos artesãos fica a gerir a marca, sem custos para a CCDR. Desde então, o Projeto TASA alargou a sua intervenção e expandiu as ações, com várias atividades e serviços. Neste momento conta com 48 artesãos e 15 designers a colaborar na rede TASA. Já realizou muitos projetos de produtos personalizados, desenvolveu diversas experiências turísticas, promoveu vários cursos e projetos de valorização das artes e ofícios.

Como decorreu o processo de seleção dos artesãos e designers?

Graça Palma: O ponto de partida do trabalho do TASA é a cultura imaterial inerente às artes tradicionais, os materiais e as tecnologias associadas às práticas artesanais. A inovação é introduzida pelo design de produto, que trabalha a funcionalidade do produto e sua adequação às necessidades atuais, o que implica adaptar o design à técnica e promover a combinação de materiais. O TASA colabora com artesãos e designers dispostos e interessados em colaborar em processos de inovação tendo em conta estes pressupostos. Trabalha numa lógica de rede que vai alargando à medida que são introduzidos novos produtos e projetos e que abrange a maioria das artes tradicionais ainda ativas: Olaria, Cestaria de Cana, Empalhamento de Cadeiras, Entrelaçados em Palma, Tecelagem, Latoaria, Cortiça, Madeira, Azulejaria e Cerâmica.

Quando começou parceria com a Malhadinha Nova, porquê e qual o resultado dessa parceria?

Graça Palma: Em 2019, a Rita Soares desafiou a equipa do TASA a colaborar na produção de um conjunto de candeeiros de teto inspirados no peixe "achigã" para a Casa das Artes e Ofício da Herdade da Malhadinha Nova. A intenção era trazer o património cultural e natural do espaço envolvente, nomeadamente da ribeira de Terges, para o interior da casa. O buinho é a planta aquática que circunda a ribeira e esse é o material de eleição utilizado na arte do cadeireiro. Ficámos muito entusiasmados com a ideia e resolvemos então pegar nos ofícios tradicionais (cadeireiros e olaria) e nos materiais naturais (buinho, madeira e barro) para criar este chandelier exclusivo para a Malhadinha Nova, desenhado pelo designer Hugo da Silva e executado por artesãos locais. Esta sinergia entre design, tradição e turismo materializa-se assim num conjunto de três candeeiros em que se presta homenagem à alma de um lugar através de uma abordagem contemporânea.

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